21 de agosto de 2014

Dica de Hoje: Black Kiss - Howard Chaykin no seu melhor estilo! Sexo, religião, drogas e uma trama fantástica!

BLACK KISS - SE NÃO LEU, NÃO SABE O QUE ESTÁ PERDENDO!!


Howard Chaykin é um dos meus autores preferidos. Ele já fez várias coisas legais nos quadrinhos como Os Gaviões Negros, Batman e com o já postado aqui, Clube Vampiro. Essa HQ ele lançou em 1988 e 1989 como uma minissérie de 4 volumes e é sensacional. Toda em preto e branco, o que define bem o seu traço, ela explora o sexo, mas não o sexo comum. O Sexo polêmico que envolve freiras, mulheres lésbicas, padres e claro um assassinato. Tudo muito bem amarrado.




A trama é consistente nas suas muitas viradas típicas de um filme policial, noir, naturalmente passado em Los Angeles a base de muito Jazz – muito parecido com aqueles filmes B mais ou menos pornográficos, que entre uma cena de ação e outra surge alguém transando como forma de apresentação (algo também típico em filmes de ação, onde os heróis se conhecem na base da porrada).


Basicamente o que move a trama são as duas mulheres e amantes, Dagmar Laine e Beverly Grove. Ambas estão tentando destruir um filme do acervo pornográfico do Vaticano. Dagmar é idêntica a Beverly, uma ex-atriz de sucesso dos anos 1950, embora nos dias de hoje (final dos anos 1980) ainda esteja extremamente jovem. Nosso personagem de penetração (na trama e outras coisas) é Cass Pollack, judeu, músico, ex-viciado em heroína, que tem sua esposa e filha assassinadas pela máfia e é incriminado pela polícia corrupta. 



Cass acaba se envolvendo (para seu azar) com Dagmar e Beverly. Muitas fugas, transas e revelações surgem até sabermos que o tal filme que deveria ser destruído prova que Beverly, jovem desde os anos 1920, participou de uma orgia satânica com a alta elite hollywoodiana. Esses seguidores satanistas da elite ainda existem e querem que Beverly conceda a eles a vida eterna na morte eterna. Nunca é mencionada a palavra vampiro, mas rituais de sangue, alho e estacas dão a tônica com facilidade.



No entanto, grande parte do que move as surpresas e as cenas mais agressivas sexualmente da estória é o fato de Dagmar ser uma mulher escultural, linda e perfeita, idêntica a Beverly, mas com uma diferença crucial: Dagmar tem um enorme e viril pênis. Antes um homem, Dagmar hoje é uma mulher com bônus. Esse estranhamento (repito, lembrem que estamos no final dos anos 1980) chega a passar inclusive por cenas cômicas quando capangas da máfia ao estuprarem Dagmar se questionam se podem ser chamados de gays.


Chega a ser entranho para o nosso olhar atual (ou não) como satanismo, vampirismo, vida promíscua das celebridades e poderosos são coisas mais passíveis de aceitação, sem grandes choques gráficos, do que uma bela mulher com um tremendo pênis duro. Não obstante, o sexo oral ocorre de diferentes formas com diferentes pessoas, inclusive Dagmar que diz adorar ver o rosto do sujeito quando ele ejacula na sua boca. Outras reflexões sobre o pênis surgem quando Cass, enquanto judeu, é reconhecido justamente por ser circuncidado - além do temor e desejo da sobrinha (e parceira sexual) de Cass ter a respeito do pênis dos negros.


Não só temas a respeito do pênis e sexo oral são constantes, como também formas fálicas. Ora, a cruz do anticristianismo, igual a cristã, só que que invertida, não deixa de ser um pênis, antes caído, agora ereto. Essa mesma ordem anticristã que tem por base O Livro das Oferendas da Ordem de São Bonifácio remete a um santo que ficou famoso por ter derrubado um carvalho (ou seja, um pau de pé) que servia de veneração ao deus Thor. Com essa madeira Bonifácio fez uma igreja cristã. Esses detalhes não são apresentados na trama, mas perceptíveis com alguma contextualização.



Ainda assim, é Dagmar, a mulher com pênis, a fonte principal de choque desta HQ que chegou a ser proibida em alguns países. Nada mais natural do que numa mesma estória ter uma Mulher com pênis e a tradição cristã. Quer coisa mais impotente do que a mulher no cristianismo, na herança patriarcal do judaísmo? Tantas obras falam disso hoje em dia, mas poucas expressam o horror gráfico de Chaykin. Uma mulher com um pênis ereto é a vingança pictórica de uma impotência histórica, uma espada em chamas louca pra se lambuzar de sangue. Diriam muitos, cruz credo !


Polêmicas e devaneios à parte, recomendo Black Kiss - a edição encadernada lançada pela Devir em 2011 é lindissima - uma HQ com “algo especial”.

IMPERDÍVEL

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