FALCÃO NEGRO - O HERÓI DOS ARES
Falcão Negro é um personagem bem antigo: surgiu em 1941, criado por Chuck Cuidera, Bob Powell e Will Eisner, como parte de uma antologia de histórias de guerra publicada pela Quality Comics, a Military Comics. Uma lenda dos ares, um homem misterioso, um herói mundial. Não são poucos os adjetivos a serem usados para se definir o Falcão Negro. Líder de um grupo de ases da aviação, ele é querido por todo o planeta, principalmente pelos americanos, graças à luta que trava contra os nazistas, no auge da Segunda Guerra Mundial. Toda sua fama, porém, sofre um duro revés quando se vê acusado pelo senado dos Estados Unidos de atuar como espião para o regime comunista da União Soviética. Com isso, algumas perguntas ecoam: quem pretende ver a ruína do Falcão Negro? Quais os perigos reservados para o mundo sem um de seus maiores símbolos?
Conhecido apenas por seu apelido, ele liderava um grupo de ases da aviação, os Falcões Negros, contra as mazelas perpetradas pelo nazismo. Claro, a ideia era capitalizar em cima da Segunda Guerra Mundial, que transcorria basicamente na Europa – os Estados Unidos só entrariam no conflito no fim daquele ano. Mais de quatro décadas depois, em 1988, Howard Chaykin remodelou e atualizou o personagem em uma minissérie de três partes lançada pela DC Comics, detentora dos direitos da revista após a falência da Quality. No entanto, em vez de apenas homenagear o Falcão Negro e sua importância histórica, fazendo uma simples trama baseada na dicotomia clássica da Segunda Guerra – aliados contra nazistas –, o artista reescreve a história do período ao criar um invejável conto de mistério envolvendo agentes secretos.
Na visão de Chaykin, a tensão entre Estados Unidos e União Soviética, que mergulharia o mundo em um estado paranoico por décadas a fio (a Guerra Fria), já existia antes mesmo do término do maior conflito do Século 20. Isso transforma sua abordagem do clássico personagem em uma versão em quadrinhos dos romances de John le Carré e Graham Greene, mestres da literatura de espionagem, ao abordar conspirações políticas, sexo e assassinatos. O roteiro de Falcão Negro não é simples de ser acompanhado – em grande parte, graças aos diálogos secos, que muitas vezes fazem alusão a ações e personagens ainda não mostrados ou citados vagamente. O leitor, com isso, torna-se elemento ativo na construção do enredo, tendo que ligar nomes e citações para saber quem é quem, quem é aliado de quem e, principalmente, quem trai quem.
E, embora séria, a trama se dá ao luxo de conter momentos cômicos, graças ao carisma do protagonista e de seus coadjuvantes. Falcão Negro se parece muito com os papéis representados por Cary Grant nos longas de Alfred Hitchcock, em especial Intriga internacional. Ele é um homem inteligente, no meio de uma situação incontrolável e perigosa, mas que não perde o charme ou o bom humor.
É verdade que Chaykin não faz um grande trabalho, seja como roteirista ou desenhista, há um bom tempo. No entanto, durante os anos 1980, em seu auge criativo, foi mestre da narrativa. Poucos constroem uma diagramação tão ágil quanto a sua, seja pelas sequências com quadros pequenos para transmitir uma ação intensa e rápida, ou quando termina uma cena com um gesto de personagem, diálogo ou onomatopeia que faz referência ao início da cena seguinte – expediente bastante usado também por Alan Moore em seus roteiros.
O resultado final de Falcão Negro é mais do que satisfatório. Uma pequena obra-prima dos quadrinhos, embora quase desconhecida, que ganhou edição nacional pela Abril no fim de 1989.
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